Carlos Beltramo y Carlos Polo – 04/12/2018
Estamos às portas de uma mudança dramática no cenário político e diplomático mundial. Aproximam-se turbulências. Mas pela primeira vez, depois de muito tempo, um bloco sólido de países enfrentará o muro do marxismo cultural dominante em eixos fundamentais.
Assim como ninguém esperava pela caída do Muro de Berlim, símbolo do ostensivo poder soviético marxista da segunda metade do século XX, hoje tem-se a impressão de que o marxismo cultural, dominante em quase toda a Europa e América, está na trajetória de seu colapso. Mas é preciso reconhecer que muitos fatos políticos recentes estariam pressagiando esse caminho de dissolução. O cidadão comum está farto da corrupção e pobreza em que normalmente acabam os socialismos de Estado, bem como da chocante incoerência de seus líderes, que costumam ver a realidade de uma maneira rígida, buscando impô-la a todos os demais.
Em 9 de novembro de 1989, caiu o primeiro Muro, o de Berlim. Durante quase 3 décadas, um complexo sistema de contenção de 155 quilômetros de betão e vigas de aço reteve pessoas que lutavam por libertar-se da opressão marxista. De nada valeu a retórica de dirigentes do império soviético para fazer crer ao mundo que seu sistema funcionava e tornava as pessoas mais felizes. Cercas de arame, fossos, cães e guardas que disparavam para matar falavam mais forte. A via de escape tinha um único sentido. E não era na direção do que pregava o marxismo. Era melhor fugir de tudo aquilo, ainda que às custas da própria vida.
Mas a queda desse primeiro Muro não foi, como alguns pensaram, o fim do marxismo. Conforme era derrubado, outro “muro” era posto em construção, igualmente de signo marxista, mas muito mais sutil. Este não é de betão, mas também retém e restringe a liberdade. E faz isso
provavelmente de forma mais eficiente. É o “muro” do marxismo cultural, que já não busca o controle dos meios de produção material, como propunha Karl Marx, mas sim da forma de pensar das sociedades.
Construído por Gramsci, Lukács, Kojève, Adorno e Marcuse, entre outros, o muro do marxismo cultural busca o controle dos meios de produção intelectual. Aprisiona as mentes, controlando o discurso público e o “politicamente correto”: quem se expressa de forma diferente é duramente castigado.
Pacientemente, durante anos, os arquitetos do marxismo cultural foram se apoderando dos meios de comunicação e das universidades com tal propósito. Haviam descoberto algo que Marx nem sonhava: controlando o discurso e a agenda na esfera pública, podiam controlar a vida social de maneira muito mais eficiente do que pelo controle econômico. Este autêntico muro mental penetrou na cultura e nas instâncias de poder locais e internacionais, estendendo-se desde o público até os âmbitos mais privados, como a família e a sexualidade, com o fim de controlar tudo e todos. Sua eficiência fundamentou-se até agora em convencer as pessoas daquilo que eles querem, sem que a maioria sequer suspeite que está sob o seu domínio. Jogam com a ilusão de conceder “direitos” e “liberdades” aos cidadãos, mas exigem, em troca, o reconhecimento do poder absoluto, disfarçado de “normalidade”. Os poucos dentre nós que vemos que algo não anda bem sentimos que é tão poderoso esse aparato que nunca cairá, que somente pode acumular mais e mais poder, enquanto nos confina ao novo ostracismo que se chama “irrelevância”, mediante palavras mágicas, como “ultra” ou “…fobos”.
E apesar disso, esse muro do marxismo cultural está começando a cair, por mais que para muitos pareça tão intransponível e indestrutível como aquele primeiro Muro na década de 80.
Os fatos vão se acumulando: o Brexit, o NÃO ao enganoso acordo de paz da Colômbia com os narco-guerrilheiros das FARC, a eleição de Donald Trump, o triunfo de Viktor Orban como primeiro ministro da Hungria e a exclusão dos “estudos de gênero” nas universidades, a derrota da legalização do aborto na Argentina, a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil são apenas alguns.
Merecem menção particular os resultados eleitorais desta semana em Andaluzia. O partido Vox, que se apresenta sem complexos com um discurso que bem pode ser definido, entre outras coisas, como anti-marxismo cultural, conseguiu 12 deputados regionais. Passou de 18.000 eleitores para quase
400.000. É um fenômeno. Pela forma parlamentarista de eleger o presidente regional (equivalente a governador em outros países), a soma dos partidos de centro e de direita pode ser o fim de 36 anos de governo socialista em Andaluzia. Mas além disso, põe em cheque a política nacional. “The right is cool again”… também na Espanha. O muro está rachando e não por ação da extrema direita, como dizem alguns jornalistas empenhados em menosprezar o fenômeno, mas porque as pessoas estão cansadas do experimento da esquerda. Em todos esses fatos há uma constante: o marxismo cultural é o establishment que perde, embora usando todo o seu poder para vencer o concorrente que o desafia. E perde, contra todos os prognósticos dos guardiães mediáticos e políticos de seu discurso público. Triunfa o opositor ao marxismo cultural que enfrenta todo um aparato de poder e ganha inclusive com muito menos recursos econômicos e contra a ação hostil e militante da imprensa.
Por que? Porque o discurso do marxismo cultural promete muito e realiza pouco. E o pouco que realiza é exatamente o oposto ao prometido. Os políticos que chegam ao poder prometendo acabar com a pobreza se tornam extremamente ricos com todo tipo de corrupção e abuso de poder. Os paladinos da liberdade sexual do gênero se convertem nos piores ditadores de pensamento único LGTBI, perseguidores de todo dissidente. As feministas acabem convertendo as mulheres na versão feminina dessa parte dos varões que todos nós detestamos: a do macho irresponsável e egoísta. Quanto mais poder acumula e quanto mais longe leva suas reformas, mais flagrantes e menos toleráveis para a cidadania se fazem as contradições.
Há pouco dias, o diplomata Ernesto Araújo, anunciado como o futuro ministro de Relações Exteriores do Brasil, declarava que a missão que recebeu é de acabar com todas as formas ideológicas do marxismo cultural, qualquer que seja seu nome (gênero-diversidade sexual, ecologismos, feminismos, multiculturalismos, teologia da libertação etc.). Araújo desnuda magistralmente a confusão de muita gente que, ao rechaçar “o comunismo”, apontou o tempo todo para um monstro que já mudou. A serpente do marxismo original e ortodoxo trocou de pele e muitíssimas pessoas ficaram olhando a pele vazia, pensando que essa “falsa serpente” não deveria chegar ao poder. Enquanto que a verdadeira serpente, com outra pele, estava se convertendo em seu tirano. É a nova esquerda, que nunca abandonou seus princípios e praxis de luta de classes, apenas transformou seu discurso e soube como controlar a agenda pública. É a “nova esquerda”, que descreveram muito bem Agustín Laje e Nicolás Márquez em seu livro que há meses tem categoria de best seller.
2019, um ano chave
Mas Araújo não tem tudo muito claro. Chama poderosamente a atenção sua lucidez para detectar a verdadeira serpente e sua determinação para combatê-la. E, sem dúvida, essa guerra declarada ao marxismo cultural decantará em múltiplos cenários políticos. 2019 será um ano particularmente chave para a política internacional e local: tudo indica que muitas coisas sucederão nos próximos 365 dias.
Por exemplo, a posição do Brasil na ONU dará uma volta de 180 graus com Araújo, um homem que nunca escondeu sua admiração por Donald Trump. Recordemos que Bolsonaro anunciou seu desejo de retirar-se da ONU e que a embaixatriz dos Estados Unidos, Nikki Haley, oficializou a retirada de seu país do Conselho de Direitos Humanos, qualificando-o de cloaca e a seus membros de hipócritas. Para nós que estivemos nos corredores da ONU resulta claro que o marxismo cultural, atualmente dominante no sistema internacional, não poderá continuar igual com Trump e Bolsonaro contra. E as coisas poderão ser piores se, como anunciou Bolsonaro, o Brasil se retirar totalmente da ONU.
Estamos às portas de uma mudança dramática do cenário político e diplomático mundial. Aproximam-se turbulências. Mas pela primeira vez, depois de muito tempo, um bloco sólido de países enfrentará o muro do marxismo cultural dominante em eixos fundamentais, em temas relacionados com a vida e as liberdades.
No Population Research Institute, seguimos de perto o processo de maturação de muitos brotos de insubordinação frente às diferentes imposições do marxismo cultural em diversos países. Para potencializar esse fenômeno, criamos recentemente a Divisão RELEASE, dedicada a potencializar organizações com ferramentas de participação cidadã. Ali onde se identifica a opressão do marxismo cultural e os cidadãos encontram os meios para rebelar-se, cedo ou tarde percebe-se a mudança.
2019 é ano eleitoral em muitos países da Europa e da América, e nos trará mais de uma surpresa. Será saudável para a humanidade, ainda que não esteja isento de momentos delicados, de verdadeira crise. Depende de nós se essas crises são de crescimento verdadeiro ou teremos que continuar esperando por uma mudança para melhor.
Este artigo foi escrito em parceria por Carlos Polo e Carlos Beltramo.